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Deixo algumas fotos (apenas algumas) de barcos e pessoas de Sarilhos Pequenos, quase todas identificadas, no final do texto.
Para que se possa pensar a articulação da memória na vida social, é importante enfatizar a necessidade de se observar os mecanismos sociais que favorecem a experiência comum da vida
Se o relato biográfico é constituído a partir da memória, tanto individual como colectiva, lembrar é também uma forma de nos posicionarmos socialmente.
Memória é a capacidade do ser humano de reter factos e experiências do passado e retransmiti-los às novas gerações através de diferentes suportes empíricos (voz, música, imagem, textos, etc.).
Nós não nos lembramos de tudo o que aconteceu ou que nos foi ensinado ao longo de nossa vida. Esquecemos a maioria das coisas que vivemos e só retemos aquelas que possuem significado, isto é, que são funcionais para nossa existência futura. Já alguém disse que cultura é memória, pois é a cultura de uma sociedade que guarda tudo o que é retido pela memória para depois poder servir como experiência válida ou informação importante para o futuro.
As festas populares, por exemplo, das pequenas comunidades como Sarilhos Pequenos, enquanto práticas culturais que comunicam saberes e aprendizagens colectivas, são tomadas como exemplo para se compreender como parte da tradição da cultura local depende da transmissão dos valores do grupo social, do colectivo, e das trocas de saberes entre os protagonistas dos festejos. Neste processo, as representações sociais exercem a mediação simbólica produzida no compartilhar dos sentidos, como matéria-prima essencial da cultura imaterial e da memória social. A recordação e a memorização são tidas como processos construídos culturalmente e fazem parte da dinâmica da vida social
A importância de se legar memórias, deixar às novas gerações toda a informação que possuímos, seja através da escrita, da fotografia ou da pintura, é um dever cívico, um acto de cidadania. Nesse sentido, procuro divulgar e perpetuar memórias, passar toda a informação que possuo, quer seja através da publicação de livros (4), sendo que dois dos seis livros escritos esperam publicação: “Falares de Sarilhos Pequenos – Alcunhas, Termos, Expressões e Aforismos” e “Histórias de uma Travessia”, quer seja utilizando as novas tecnologias, através de um blogo que criei e da rede social facebook. Nada nos pertence; nem mesmo o nosso corpo, que é transitório...
Não é que esteja a pensar partir brevemente, ainda tenho muita coisa para fazer, muitas ideias para realizar. Diz-se que depois de certa idade a gente tem mais coisas para contar do que para fazer, mas eu vou fazendo e contando, por enquanto...
“No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade.” (Saramago)
Depois desta pequena introdução, vou deixar aqui os nomes dos barcos (botes, varinos e canoas) de Sarilhos Pequenos, que chegaram a ser perto de sessenta no auge da sua actividade marítima. Poder-se-á dizer, sem chauvinismos desmedidos, que Sarilhos Pequenos possuía mais barcos do que as outras terras do concelho (Moita, Gaio, Rosário e Alhos Vedros) todas juntas. Só faço referência à quantidade de barcos apenas para repor a verdade. É que já ouvi em muitos locais de palestras e outros eventos afins, omissões e inverdades ditas por ignorância, desconhecimento e até sobranceria a propósito dos barcos do Tejo no concelho da Moita.
O que está nos meus livros e em todos os meus textos sobre Sarilhos Pequenos são as memórias pessoais e intrínsecas de quem as relata e também toda a informação que fui recolhendo ao longo de anos. Estas são as minhas histórias, as minhas informações. Fossem outros os narradores, outras seriam as histórias e, quiçá, mais informações. Daí que não considero esta lista de barcos e pessoas completa, por ventura faltarão nomes de barcos e de pessoas que a minha memória não reteve ou desconhece.
O homem precisa de amar a sua terra
Existe um despertar romântico e saudosista no homem que valoriza a maior de suas origens: a pátria. A pátria começa pela nossa terra.
Marcolino C. Fernandes (Não escreve pelo novo acordo ortográfico))
BARCOS TRIPULAÇÃO/ARRAIS
|| (alguns eram os próprios proprietários)
VICTOR HUGO ------------------Joaquim Rodrigues (“Badio”)
MALICHA ------------------------- António Rodrigues (“Rabão”)
IRENE -----------------------------Joaquim Rodrigues (“da Estefânia”)
POMBINHA ---------------------- Zacarias Fernandes( Zé-Carias)
REGALO --------------------------José “Pinta” e “Martaliano”
ULISSES --------------------------Alexandro G. Paulino(“da Pança”)
NÉLITA ----------------------------Alexandro Paulino(“da Pança”)
PALMEIRA------------------------Malaquias Miranda(“Guedunha”)
DECIDIDO -----------------------Henrique Fernandes ( “Zélhinho”
LUTADOR ---(Cnuda) ---------Manuel J. Fiteira (“Quindera”)
SOTA -----------------------------José (“Peixinho”)
FAÍSCA -------------------------Joaquim (“da Estefânia”)
ARGENTINO -------------------Henrique ?
BUQUE --------------------------António "Mundo"/ Adelino”Peixespada”
TALAMINHO -------------------Sipriano Martins (“Paiôrra”)
FERNANDO I (Gaião)-------José Rodrigues (“Batata” )
MISÉRIA-------------- ---------Joaquim Rodrigues (“da Estefânea”)
PIMPÃO -----------------------João Gomes (“da Pacheca”)
COMPANHIA -------------- --João “da Pacheca” (Filho)
LARANGINHA ---------------Ant.Caetano e Ant.(“Pança”)
CAVALA ------------------- ---Ant.Fernandes (“Antóniozinho”)
PALHAIS ----------------------Ti-Caetano
CABO-RASO ----------------Francisco Gomes(“Chico Ferrum”)
ENTORTA-VIDAS ----------Joaquim Fernandes (“Eua”) e ( Ti-“Cerejas”)
MULATA ----------------------Ti-“Manso”
VASCO DA GAMA ------ --João Rodrigues (Ti – “Aré ”)
FORMOSINHO --------------António Fernandes (Ti – “Gungunhana”)
JOSÉ TOMÁS ----------------Eduardo Fernandes (Ti- Eduardo “Pilha”)
MARIA ROSA ----------------Armando Batista ("Zéssado”) / Pai e Filho
MARIA DAS DORES--------Zacarias (“Penetra”) e Filhos
CANOA CEGA ---------------Manuel Ventura (“Romeu”)
CALDINHOS -----------------António Francisco “Leal”/João Aré
PARTE E RASGA------------José"Ferrum"/Fred."Pinta"/J."Carapau".
MANUEL I---------Talvez Henriue “zelhinho” ??
CAMELA---(Flôr/Brejos)-António "Ventura"
ESTEFÂNEA --Canoa----Manuel Batista (“Zéssado”)
PISTAROLA ------------ António Simões (“Pistarola”)
SIMÕES ---------------- António Simões (“Pistarola”)
RATINHO ----------- ?
VARETAS----------- -----José de Oliveira (Ti-“Zé-Batefado”)
PAI-DA-MALTA------------Agostinho Rodrigues e Tomás José (“Farramenteiro”)
S.JOÃO BATISTA e MALICHA -------Manuel da Costa (“Rasgado”)
TAVARES ------------------Manuel Fernandes
SOCIEDADE/ COMPANHIA ----------Manuel José (Geada)
NÃO INVEJA A FLÔR------------------Bernardino Rodrigues (Ti- “Tripas”)
INVEJA A FLOR-------------------------João (“Aré”) ??
BEBVINDO--------------------------------João Aré
16 DE FEVEREIRO -------------------José Rodrigues Pint (“Lé”)
ADELINA COSTA---(Fragata)------- Francisco João (“Chico Remicha”)
TATE ----------------(Fragata)---------Ti- Bruno.
BOTE do “Rambóia”
BOTE do “Gaiolo”
BARCO do Diamantino
BARCO do Berardo “Charuto".
BARCO do Ti "Charuto”
BARCO do Ti "Sabino".
BARCO do Ti "Chicozinho".
BARCO do Ti- "Zé-Gaitinhas".
BARCO do Ti-Manuel Da" Velha".
BARCO do Ti- "Zé-Batefado”
Jornal do sindicato dos fragateiros com a lista dos mortos pelo ciclone de 1941, onde se inclui três sarilhenses: Herminio José, Manuel "Pança" e Américo Gomes.
2ª PARTE
Os corpos gerentes, os carolas na marcação do campo com cal, os jogadores em transito e os adeptos acompanhantes do clube.
1ª PARTE
O 1º de Maio Futebol Clube Sarilhense, fundado em 1 de Maio de 1918, é um dos mais antigos clubes de Portugal e do distrito de Setúbal, sendo ultrapassado apenas pelo Vitória de Setúbal (1910), pelo Barreirense (1911) e União Futebol Comércio Industria (1917).
A sua primeira sede, provisória, foi na rua Antero de Quental, por cima da taberna do Ti–Zacarias “Penetra”. A segunda sede foi na rua Luís de Camões, num barracão adjacente à taberna do Ti–“Zé Pataco” (Rosa da Mónica). A terceira sede, já com carácter permanente, funcionou durante muitos anos na Rua Teófilo de Braga (actual sede do PCP), até ao início da década de 1970, data em que o clube se mudou para sede própria (Ginásio). A Sede é pertença do próprio clube e fica na rua com o mesmo nome: 1º de Maio.
O nome 1º de Maio não terá surgido por mero acaso, se tivermos em conta as mudanças políticas que se verificavam à época, em todo o mundo, aquando da fundação do clube por trabalhadores marítimos, fragateiros de Sarilhos Pequenos. Em Portugal vivia-se a 1ª República (5 de Outubro de 1910 – 28 de Maio de 1926) com todas as convulsões e repercussões inerentes. No resto do mundo predominava as influências da revolução Russa de 1917. O movimento anarco-sindicalista português e as lutas sociais influenciavam as classes trabalhadoras. Por isso, não eram raras as conotações com as datas mais significativas das lutas dos trabalhadores em todo o mundo, como é o caso do dia internacional dos trabalhadores, 1º de Maio, que vem sendo comemorado desde 1889.
Foram muitos os jogadores fragateiros, ou filhos destes, que se notabilizaram no futebol, pelo que a todos indistintamente – porque uma citação individual seria longa, correndo o risco, mais que provável, de omitir alguém, sempre desagradável – aqui expresso a minha homenagem, através da publicação de um conjunto de fotografias significativas de várias gerações de jogadores, na sua grande maioria filhos da terra, que marcaram indelevelmente a vida do clube. Poder-se-á afirmar, sem falsa modéstia, que foram dignos representantes das respectivas gerações e da grandeza que o clube outrora granjeou. Tradicionalmente, o clube foi sempre um “viveiro” de bons futebolistas, incluindo jogadores internacionais, que depois transitavam para outros clubes de maior dimensão, alguns deles da 1ª Divisão Nacional (hoje, 1ª liga). De entre esses clubes de maior dimensão que absorveram jogadores sarilhenses, contam-se os seguintes: Grupo Desportivo da Cuf, Barreirense, Luso, Vitória de Setúbal, Benfica, Sporting, Belenenses, Boavista, Marítimo, Beira-Mar, União de Leiria, Varzim, Montijo, Peniche, Amora e outros que a minha memória não reteve.
Como todos os clubes, o 1º de Maio teve momentos altos e baixos, sendo que, em minha opinião, o actual momento, que vem desde o encerramento do futebol, é o período mais baixo de sempre do clube. Faz muita impressão ver um clube centenário (faltam nove meses para fazer cem anos) «acabar» assim, ingloriamente... Mas prefiro não divagar sobre as razões da actual situação do clube, por falta de conhecimento de causa. Não sou uma pessoa ligada ao futebol, nem sequer adepto sou, respeito quem é, todavia, fui um sócio que também envergou a camisola do clube, época de 1967/68, como jogador dos juniores. Porém, estive sempre desligado das coisas do futebol. O que não quer dizer que não tenha muito apreço, respeito, por todos os carolas que se dedicaram de alma e coração ao clube. Sou apenas um Sarilhense que gosta de preservar o património colectivo. E o clube é um património que faz parte da memória colectiva dos Sarilhenses, tal como os barcos, as pessoas e os usos e costumes.
Vários foram os momentos altos da carreira do clube, sendo os mais importantes, em minha opinião, os seguintes: A fundação do próprio clube em 1918. A conquista da “Taça Mariano A. Coelho” em 1949-50, vencendo o Vitória de Setúbal. A proeza da equipa ao ganhar 22 jogos seguidos em 1953-54. O nascimento da empática e envolvente amizade entre as pessoas de Sarilhos e de Sines, nas décadas de 50 e 60, por obra dos seus clubes de futebol (1º de Maio e Spor Lisboa e Sines, julgo que seria este o nome do clube de Sines à época). A conquista do campeonato distrital de juniores em 1963-64. O lançamento da primeira pedra para iniciar a construção da nova Sede (conhecida como ginásio), assim como a sua inauguração. A conquista do campeonato da primeira distrital em 1977. A conquista do campeonato da zona (f) da 3ª Divisão Nacional e consequente subida à 2ª Divisão Nacional, em 1978. A conquista do campeonato distrital (2ª divisão) de juniores, época 1973/74. E, Finalmente, a participação na taça de Portugal, jogando com o Sporting, em Alvalade, perdendo por 3-0. Aceito que possa haver quem considere outros, e não só estes, os feitos mais importantes do clube, mas esta é apenas a minha opinião, sujeita a correcções, se for caso disso. Refiro-me só aos feitos e desenvolvimento do clube alcançados no período antes do 25 de Abril de 1974.
Por último, quero fazer aqui uma chamada de atenção pertinente e muito justa, que é também uma homenagem a todos aqueles, e foram muitos, que, não sendo sarilhenses de nascimento, aqui jogaram futebol com a mesma garra, o mesmo empenho, a mesma paixão e o mesmo orgulho em vestir a camisola do 1º de Maio. Não consigo precisar, mas ao longo de quase todo o século XX em que o clube existiu (leia-se jogando futebol, porque o clube como estrutura está de pé, quero dizer, persiste para efeitos legais, tem edifícios de pé, e tem futebol infantil), muitas dezenas de jogadores de fora – naturais de outras terras – fizeram parte do espírito sarilhense, através do futebol. Há muitos exemplos de jogadores de fora que casaram com mulheres sarilhenses e aqui constituíram família. Alguns ficaram mesmo cá a viver, integrando-se de tal forma nos usos e costumes sarilhenses, que nem se notou que não haviam nascido cá. Todos eles, os que já faleceram e os que ainda cá estão, merecem o nosso reconhecimento, que é uma forma sincera de gratidão.
Este era um tempo (1918 – 1974) em que os jogadores não recebiam quaisquer contrapartidas monetárias, ou outras, para jogar futebol, a não ser as mazelas intrínsecas à condição de jogador.
Marcolino (Escreve pela ortografia antiga)
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