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50 Anos juntos ---- 1973 – 2023
APESAR DE TUDO, AINDA CÁ ESTAMOS.
O “tudo” são as mazelas do corpo, em relação à saúde, o resto são contingências da vida que vamos ultrapassando.
Não temos medo da morte, mas sim de morrer. A morte já é depois que deixarmos de respirar. Já não haverá ninguém como nós aqui. E como o nosso desejo é sermos cremados, já não teremos pés, nem cabeça, nem fígado, nem pulmão, nem coração e tudo mais. Morrer ainda é aqui, na vida, no sol, no ar, na água. Ainda pode haver sofrimento, dor, ou vontade de mijar”. (Texto adaptado da letra de uma canção de Gilberto Gil)
Desta vida não se leva nada, só se deixa: deixa-se quem amamos, deixa-se os amigos, deixa-se lembranças, deixa-se os bens materiais, enfim deixa-se tudo e partimos apenas com a roupa do corpo que nos vestirem. Nascemos sem trazer nada e morremos sem levar nada… Nada é nosso, tudo é passageiro.
Durante a nossa curta existência, a exultação e a dolência caminham de mãos dadas. É por isso que devemos tentar ser felizes de vez em quando, não se pode ser sempre, a felicidade são momentos. Além disso, ser feliz consome-nos muito tempo.
Passados 50 anos de vida em comum, ainda trazemos connosco a criança que fomos, com muitas aventuras, algumas carências, mas uma alegria inabalável pela nossa existência.
O adolescente também está sempre presente, ainda questiona e, às vezes, indigna-se.
O Jovem ainda permanece em nós, sonhador, com umas marcas de lutas ainda visíveis, motivadas pelo romantismo revolucionário de quem queria mudar o mundo e derrubar a ditadura.
O adulto tem uma vida preenchida de realizações pessoais e colectivas, mas também de tristezas por entes queridos que partiram, e algumas desilusões no seu percurso de vida, sobretudo políticas. O 25 de Abril, o dia da Liberdade, foi dia mais marcante das nossas vidas, em termos colectivos. Em termos pessoais foi o nascimento da nossa filha.
E agora, que já estamos na chamada terceira idade, vivemos o presente com a experiência da idade. O nosso tempo também é este, mas já foi outro, adaptámo-nos às novas tecnologias, mas temos memória e não esquecemos o passado, a história e as origens. As raízes são uma coisa que temos em comum com as àrvores.
E já que a vida é uma passagem curta aproveitamos o tempo para viver o melhor que pudermos e soubermos, enquanto não estamos dependentes de terceiros. Por isso, vivemos bem com esta idade, apesar dos percalços de saúde. Esta idade, tão fugaz nas nossas vidas, tem apenas a duração do instante que passa.
Mas, ainda assim, não desistiremos de sonhar, nunca é tarde! Os sonhos são um abismo sem fundo. Quando nós pulamos nunca mais voltamos, e temos a liberdade de voar eternamente.
Dentro de nós já morreram muitos sonhos, os que ficaram, no entanto, são livres. Livres como pássaros em liberdade, não em cativeiro. O Homem sempre sonhou em voar, mas aprisiona quem nasceu para voar. Sonha em voar, mas teme o vazio. Não pode viver sem certezas. Por isso, troca o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
A maior parte dos nossos sonhos, agora, são os que sonhamos a dormir. Porém, a recompensa pela nossa existência, pela nossa vivência em comum, foi muito para além de tudo o que podíamos imaginar e sonhar.
O que nos fez durar tanto anos juntos não foi apenas o modo como vivemos os momentos felizes, mas principalmente pela forma como encarámos as dificuldades e os momentos mais difíceis. É claro que valorizarmos muito os momentos felizes, que são pequenos pedaços de vida, transitórios, efêmeros ... mas que, todos somados, fazem a vida toda valer a pena!!!
“A vida é uma criança que é preciso embalar até que adormeça.” (Voltaire)
Vamos embalando… sempre juntos!
Marcolino Fernandes. Não escreve de acordo com Novo Acordo Ortográfico “brasileiro”.
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